Em entrevista ao “Marketing no Digital“, podcast que eu e o Bruno Brito criámos recentemente, um dos melhores humoristas das redes sociais – possivelmente o melhor ligado ao tema de UFC/MMA – partilhou a sua viagem, o seu processo criativo e o seu caminho para o sucesso.
A entrevista completa ao Tommy Toe Hold do “The Tommy Toe Hold Show” (TTTHS) está no vídeo acima, em língua inglesa. Abaixo, podes ler os highlights da entrevista na língua de Camões (e Zezé Camarinha).
Por exemplo, esta é a edição do TTTHS que seguiu o último grande evento da UFC, o UFC 214:
Como escondeu as fraquezas e realçou as forças do projecto:
“Aconteceu quase por acidente. Eu ia fazer um projecto igual ao trabalho dos outros na comunidade. (…) Mas o meu equipamento não era bom o suficiente [para um show sério, de análise de UFC/MMA], o vídeo não ficava bem, não gostava de como o áudio soava.
“Eu era mau na produção [de vídeo]. Era bom na edição mas não no resto. Com os meus skills e tendo um microfone condensador, posso fazer um vídeo soar bem, mas não tenho visuais e pensei que ninguém quereria olhar para um ecrã vazio. E foi daí que veio a ideia para o desenho animado.
“Mas se vou fazer um desenho animado, não pode ser sério. Ninguém me levaria a sério. Por isso, optei pela comédia e evoluiu a partir daí.”
ANÁLISE: É perfeitamente possível arrancarmos com um projecto e criarmos conteúdos sem ter o orçamento de uma grande produção. É possível usarmos o que temos e não expor as nossas fraquezas. Não temos câmara de filmar mas temos microfone? Experimenta-se uma animação simples, ou fazer um podcast em vez de vídeos.
Como estar atento à reacção dos fãs o fez evoluir:
“Nunca planeei fazer entrevistas falsas até ter feito uma, por acaso. As pessoas reagiram bem e pensei que tinha de fazer mais dessas. E escalou daí em diante.”
ANÁLISE: Parece a coisa mais simples do mundo, mas se o Tommy não tivesse a tomar atenção à reacção dos fãs – analisando o “engagement” de cada publicação, nunca teria o célebre Tommy Toe Hold Show que tem hoje, com 29 milhões de visualizações no YouTube e dezenas de milhares de seguidores no YouTube, no Twitter e no Facebook. Ah, e parcerias com a FOX, a MetroPCS e a Draft Kings. Há posts melhores que outros e o nosso trabalho é fazer mais dos melhores e eliminar os que não têm adesão.
As razões por que escolheu o YouTube e o Twitter:
“O YouTube era um sítio que eu frequentava muito e sentia que tinha uma ideia clara do que os criadores de conteúdos estavam a fazer [no YouTube]. Nas outras plataformas, nem por isso.
“Mas via tantos YouTubers e como eles tinham progredido e, por volta de 2012, tínhamos uma boa quantidade de gente que já eram YouTubers de carreira e já tinham uma ‘fórmula’. Eu segui essas pessoas de sucesso de perto.
“No princípio, o YouTube ia ser o único sítio em que ia estar. Depois pensei que é bom expandir, o que acabou por ser uma excelente ideia, sobretudo com o Twitter. O Twitter tem sido vital no meu sucesso.
“[O Twitter] pôs o meu produto à frente de pessoas influentes na comunidade e consegui fazer ‘targeting’ específico para pessoas que estavam a falar de MMA, coisa que eu não conseguia fazer com o YouTube, onde não havia comunidades construídas [como há no Twitter].
ANÁLISE: isto leva-nos novamente ao ponto que vimos acima: esconder fraquezas, salientar forças. O Tommy focou-se no que melhor entendia: o YouTube. E, depois, percebeu que o Twitter lhe ia dar um grande trunfo… ler abaixo.
Como chegar aos influenciadores catapultou o Tommy Toe Hold Show para a frente:
“Quando cheguei ao Twitter, as pessoas influentes – pessoas da imprensa de MMA e os lutadores – viam os vídeos e partilhavam-nos e [o projecto] explodiu exponencialmente e de forma bem rápida.
“Se eu não tivesse utilizado o Twitter, não sei quanto tempo o projecto teria demorado a descolar… ou se teria descolado de todo.
“Tentei não ser muito insistente. Não queria estar sempre a mandar coisas aos lutadores. Mas se tivesse algo sobre um lutador que achava que tinha piada, enviava-lhe.
“E a outra coisa que fiz que acho que me ajudou mais do que qualquer outra coisa foi ter começado a tentar integrar a comunidade de MMA no Twitter. Comecei a interagir com as pessoas que estavam a falar sobre o tema, não apenas a usá-lo para os vídeos.
“Tentei genuinamente conhecer as pessoas e, de repente, tinha um grupo de fãs devotos com quem eu era próximo e eles estavam familiarizados com a imprensa e os lutadores.
“Esse grupo nuclear foram as que começaram quase instantaneamente a consumir os conteúdos e a partilhar com os amigos.”
ANÁLISE: o Tommy Toe Hold juntou duas coisas muito eficazes: conteúdos genuinamente bons e uma paixão pelo contacto humano com os fãs do projecto. Foi da forma que os “seduziu” de forma dupla, com vídeos cheios de piada e pela conversa que mantinha com eles.
Resultado: fãs com paixão pelo Tommy Toe Hold Show. E fãs com paixão não só gostam dos nossos conteúdos, como os partilham. E não há nada mais importante para um projecto que quer crescer.
Se sente preocupação ou stress em criar novos conteúdos rapidamente com 3 redes sociais e grandes parcerias com a UFC/FOX, a MetroPCS e a Draft Kings:
“No mês de Julho, [o projecto] atingiu um pico que eu não achava possível.
“Como [a UFC] tinha dois grandes espectáculos em Julho, houve 2 semanas em que eu estava a criar muito mais conteúdos do que normal. E, no início, estava nervoso porque não sabia como ia correr. Mas tudo foi ao sítio. Todos os meus parceiros queriam fazer algo numa semana tão importante [International Fight Week] e, claro, não lhes vou dizer que não, sobretudo com as oportunidades que me foram dadas.
“Foi uma semana difícil, mas agora sinto que ao ultrapassar a International Fight Week como fiz este ano e, depois, a semana do UFC 214 – e ainda as conferências de imprensa do Conor McGregor, cheguei a um nível diferente.
“No passado, acho que teria sido demais. Mas agora estou tão focado e habituado. É quase como um músculo. Quando não o usamos, é difícil voltar a trabalhá-lo.
“Claro que podemos ficar cansados, mas quando o estamos a usar sempre, é tão mais fácil de criar conteúdos. É raro ter aqueles momentos em que fico 1-2 horas a tentar pensar num conceito ou ter uma piada que não está a fluir.”
Se a experiência ajudou a eliminar esses momentos de falta de criatividade
“A produtividade dos meus últimos 4 meses transformou-me numa máquina. (…) Deve haver um limite e talvez o conheça se continuar a aceitar mais trabalhos, mas de momento não me sinto demasiado sobrecarregado.
“Acho que a chave é manter as coisas na perspectiva certa e ‘light’. Estou a fazer um desenho animado. Se eu levar isto demasiado a sério, vou acabar queimado. Mas se o encarar como uma coisa com piada de que as pessoas gostam e com que se riem, isso torna tudo mais fácil em semanas como as de Julho.”
ANÁLISE: praticar, praticar, praticar é algo tão positivo que fez com que o Tommy chegasse a um ponto em que se tornou muito mais ágil do que era inicialmente, tanto a produzir como a ter ideias. A agilidade é uma arma inestimável quando o desafio é crescer (o que traz mais exigências) e quando queremos ter conteúdos actuais (e, muitas vezes, com novidades de última hora).
O processo criativo e a produção:
“O processo típico começa com consumir algum tipo de notícia. Estou sempre a olhar para os sites da imprensa de MMA e acabo por encontrar uma história que funciona para o show.
“Quando encontro a história, costumo tratar da parte visual primeiro: (…) os visuais do lutador, do fundo, das coisas que preciso para a animação.
“Tenho uma ideia geral na minha cabeça. Não escrevo um outline ou algo do género. (…) E enquanto faço a parte visual [do vídeo], tenho tempo para pensar na [execução do conceito] e é aí que, normalmente, entro no processo de escrever o script.
“Mas, às vezes, não escrevo um script de todo e simplesmente improviso, quando me sinto confortável o suficiente. Mas se é um conceito ou um lutador que não uso muito, aí escrevo um script.
“Depois do script, gravo o áudio. Um único take. (…) E edito e retiro erros. Depois, abro o meu editor de vídeo, onde já tenho a maioria das predefinições de que preciso.
(Já agora… Queres saber mais sobre Editar Vídeos Pela Primeira Vez? Se sim, clica no link. Se não, vamos continuar com a entrevista com o Tommy Toe Hold.)
“Quando o vídeo estiver acabado, exporto. Enquanto exporto, crio o thumbnail do vídeo. Normalmente, é uma coisa básica. Algo com o lutador do vídeo, a cabeça dela, o maior possível para ser identificável no thumbnail. E algo escrito.
“Feito isso, faço o upload para o YouTube e partilho nas redes sociais. E depois fico a monitorizar um pouco: os comentários no vídeo, nas redes sociais e respondo a algumas pessoas.”
ANÁLISE: o Tommy trabalha de uma forma que lhe permite ser rápido, mas sem limitar a sua própria criatividade. Ao trabalhar primeiro em tudo o que é visual (o desenho do lutador, do fundo, etc), pode estar a pensar no script em simultâneo. Também ajuda nunca parar e re-gravar o áudio sempre que faz um erro e, claro, ter já predefinições prontas (um conjunto de acções que fica gravado para não ter de ser repetida cada vez que se quer executar, como uma “macro” no Excel) no seu editor de vídeo, o Sony Vegas. E respeita ao máximo tudo o que faz um bom post.
–
Vamos recapitular mais partes da entrevista com o Tommy Toe Hold em breve, aqui e/ou no Facebook.