Do treinador aos jogadores, a selecção de Portugal está de parabéns. Não só pelo excelente momento que deram a todos os que seguiram o Euro 2016, mas também porque nos ensinaram 3 excelentes lições, que podemos usar na nossa vida e nos nossos projectos e negócios:
1 – Com a Estratégia certa, é possível vencer forças superiores.
Até à chegada de Fernando Santos, os seleccionadores nacionais tendiam a assumir como sua prioridade maximizar as forças de Portugal, nomeadamente a criatividade e técnica dos seus jogadores do meio-campo e ataque. O Felipão ilustra:
Esta estratégia trouxe triunfos, é certo. Mas não trouxe a vitória final já que, em tantos jogos que há para disputar num Europeu ou Mundial de Futebol, aparece sempre uma França, Espanha ou Alemanha que consegue dominar o campo e impôr-se melhor que Portugal.
Estas equipas tendem a ser, no papel, superiores a Portugal porque, além da criatividade e técnica, trazem para o campo outras forças, com que Portugal tem dificuldade em competir, como a agressividade, o poder físico, o jogo aéreo (e, no caso da Espanha de Iniesta e Xavi, uma irritante mas espectacular gestão da posse de bola).
Fernando Santos sabe isto e, para a sua equipa do Euro 2016, escolheu outra estratégia:
Anular as forças do adversário.
A França tinha, no papel, mais argumentos para ganhar o jogo. Tem um meio-campo fisicamente imponente e, mesmo assim, muito técnico. Os avançados são criativos e eficientes. E os defesas… podes perguntar aos alemães, campeões do mundo, que levaram uma “nega” tão grande que pareciam caloiros mal vestidos a tentar entrar no Lux.
Então, o que lhes aconteceu? O que aconteceu ao País de Gales de Bale, à Polónia de Lewandowski, à Croácia de Modric?
Aconteceu-lhes um Portugal diferente, com uma nova (e mais inteligente) estratégia.
Pela primeira vez em muito tempo, Portugal entrou no jogo, não tanto para impor a sua técnica e criatividade, mas para anular a outra equipa. Se os franceses entraram com 5 forças, com o avançar do jogo, foram tendo menos.
Ronaldo e Nani, dois extremos exímios que, colados à linha, correm como relâmpagos, jogaram no centro. Renato Sanches e João Mário, médios de ataque habituados ao centro do terreno, jogaram à direita e à esquerda, respectivamente. Confuso, não é?
Porquê estas trocas? Porque para Portugal se conseguir “fechar” e não deixar o adversário usar as suas forças, esse era o posicionamento que fazia mais sentido.
E, de repente, um adversário teoricamente mais forte, passa de 5 grandes forças que pode usar para ganhar, para 1 ou 2. Em vez de tentar lutar com gigantes, Fernando Santos trouxe o serrote para lhes cortar as pernas.
NA VIDA REAL:
Nos teus projectos, negócios e outras aventuras da tua vida, este é um raciocínio que podes usar.
Tem muitas maneiras de chegar ao que queres. Teres pessoas ou empresas maiores e com mais recursos no teu caminho não significa o fim.
Por exemplo… Lembras-te do Hotmail?
Foi o primeiro grande serviço de email gratuito no mundo. Eles, nesta analogia, são Portugal.
O Hotmail surgiu em 1996, num momento em que só os fornecedores da própria ligação à Internet (os Internet Service Providers, ou ISPs) é que tinham esse serviço.
Na nossa história, os ISPs são França. Tinham todas as forças: a infraestrutura já montada, a relação com o cliente (a quem já forneciam Internet e a quem propunham ter também email) e um orçamento para publicidade à séria. À séria, mesmo.
Aliás, aqui fica a fotografia do presidente de um dos grandes ISPs da altura:
Sem dinheiro para investir em publicidade e sem relação com o cliente…
Qual foi a manobra do Hotmail, que nem Fernando Santos ?
No fim de todos os emails enviados a partir de uma conta Hotmail, estava em destaque a frase “Get Your Free Email at Hotmail“.
Usando os seus subscritores existentes, o Hotmail passou rapidamente a mensagem pela Internet de que havia um serviço gratuito de email a que se podia aceder em qualquer sítio. Em 3 dias, o Hotmail cresceu 100 mil subscritores. Em 30 meses, chegou aos 30 milhões. Dito de outra forma:
E os gigantes ISPs nada puderam fazer. As suas forças (infraestrutura, relação e conta bancária) tinham sido anuladas. E a era do email pago acabou pouco depois.
1 ano e meio após o lançamento, os criadores do Hotmail venderam a sua criação à Microsoft… por 400 milhões de dólares. Porque, em nenhum momento, tentaram vencer os gigantes no seu próprio jogo. E aposto que as famílias os receberam aos pulos no aeroporto.
2 – A paciência é de ouro (e de diamante e de platina).
Na vida, no futebol e no negócio, é frequentemente difícil percebermos quando é que devemos ser pacientes e quando estamos a ser pacientes demais.
Ou seja, como diria um treinador um pouco menos eloquente que o Fernando Santos:
No Euro 2016, vimos as grandes vantagens de se ser paciente:
- não sacrificamos os nossos objectivos de longo prazo (Euro 2016) para conseguirmos alguns menos importantes de curto prazo (jogar de forma mais bonita, mais ofensiva, mas também mais exposta a ataques)
- não perdemos a nossa estabilidade com pressões externas (feedback negativo de adeptos no estádio, imprensa e redes sociais)
Fernando Santos tinha a sua estratégia definida. Mas isso, por si só, não é suficiente.
Se o seleccionador nacional fosse uma pessoa de pouca firmeza, o feedback da imprensa e adeptos pelo futebol menos excitante e resultados modestos de Portugal seriam o suficiente para, coberto numa suada ansiedade, o fazer repensar a sua estratégia:
Repensando a estratégia, poderíamos cair novamente no tipo de jogo mais bonito mas que nos fez sucumbir frente às maiores selecções da Europa – em que tentamos lutar fogo com fogo, mas nós temos isqueiros e eles lança-chamas.
Fernando Santos agiu quando tinha de agir (fazer entrar Éder contra a França é um bom exemplo disso) e agiu sempre de acordo com dados objectivos (Éder entrou para pressionar a defesa francesa e ganhar no jogo aéreo).
Nunca fez Portugal atacar demasiado, mas também nunca fez Portugal defender demasiado. Geriu muitos equilíbrios sensíveis e, como bom homem paciente, deu tempo ao tempo: como acredita no mérito da sua estratégia, teve a calma necessária para aguardar pelos frutos da mesma.
Numa campanha em que ninguém acreditou, Fernando Santos foi um barco a quem não se reconheceu um único abanão numa tempestade. Não resisto:
NA VIDA REAL:
É este o tipo de paciência que desejo para ti. Aquela que tem como raiz a tua confiança nas tuas capacidades e te “dá autorização” a não fazeres 10 mil euros no teu primeiro mês como empresário ou ter 100 mil likes na tua nova página de Facebook na 1ª semana.
Por muito que a vida tenha momentos em que nos faz sentir isso, não estamos permanentemente atrasados para qualquer coisa. O nosso prazo de entrega não é “ontem”. Não temos de agradar a todos, sobretudo a quem não conhece, e a quem não trabalha (e sofre) connosco. Vai um exemplo?
Eu criei o Heelbook em 2012, onde tento entreter quem o segue com 5 a 10 piadas por semana, processo que repito até ao dia de hoje.
Sem paciência, teria perdido a minha motivação pelos narizes empinados que o tema “humor sobre wrestling” causa.
Sem paciência, nunca teria conseguido estar meses a testar quais os melhores tipos de piada e que são partilhadas mais vezes (assegurando o crescimento da página).
Sem paciência, teria desistido depois dos roubos sucessivos de piadas originalmente minhas. E este é o ponto:
Sem paciência, desistimos.
Porque, a curto prazo, enfrentamos quem nos desmotiva, enfrentamos muito trabalho do qual não sabemos se vamos ter retorno e enfrentamos quem coloca barreiras ao nosso sucesso.
Mas, a longo prazo, com a tua paciência a proteger-te tempo suficiente para melhorares as tuas qualidades e fazeres o teu projecto crescer, podem acontecer-te coisas muito boas como veres a tua página ser considerada uma das Melhores Páginas do Ano do Facebook, por uma das mais reputadas apps de monitorização – vê o #13.
Imagina que estas forças negativas são o Sol e a tua paciência é o protector solar.
3 – Bonito ganha fãs. Eficaz ganha troféus.
Qualquer fã de futebol – mesmo que casual – lembra-se do que era ver uma “geração de ouro” da selecção em campo. Na mesma equipa, Portugal chegou a ter CR7, Figo, Rui Costa, Ricardo Carvalho, Simão Sabrosa Deco e um guarda-redes tão patrão que defende um penalty e a seguir vai marcá-lo para dar a vitória.
O futebol era alegre, rápido e emotivo. Se ouvíssemos alguém a queixar-se, era claramente da outra equipa. Era o tipo de futebol que qualquer fã que liga a sua televisão quer ver.
Agora, temos de nos contentar com CR7, um Ricardo Carvalho que aparece apenas esporadicamente e um veterano chamado Renato Sanches, a quem já deram idades tão avançadas que suspeito que só morrerá quando confrontado por outro imortal.
Este grupo, o do Euro 2016, não joga um futebol tão bonito. Aliás, longe disso. Jogam o tal futebol em que a estratégia é anular a outra equipa. A realidade é que houve jogos com muito poucos momentos dignos de nota.
Então como é que raio é que esta malta é Campeã da Europa?!
Porque o desporto não é um concurso de beleza. É uma competição. E qualquer competição, tal como qualquer negócio, tem um objectivo.
O objectivo de Fernando Santos é chegar à final e vencer. Não é jogar futebol bonito. Nem sequer é ganhar todos os jogos. Aliás, em 7 jogos, ganhámos 2, empatámos 5 (dos quais ganhámos 1 no desempate por penalties). E somos Campeões da Europa.
Se o objectivo do futebol fosse jogar de forma bonita, como se tivéssemos a pintar um Van Gogh cada vez que tocamos numa bola, Fernando Santos prepararia a sua estratégia e escolheria os seus jogadores de outra forma.
Por isso, nunca jogou bonito. Jogou para ganhar.
E cumpriu.
NA VIDA REAL:
Estás a pensar naquele teu projecto? Ok. Pensa qual é o grande objectivo desse projecto (lucro, ajudar as pessoas,…). Estás lá? Excelente.
Tudo o que vais planear e executar a partir daqui vai ter o propósito de chegar a esse grande objectivo. E se a tua melhor hipótese de sucesso é também a menos glamourosa, isso não deve pesar na tua decisão.
Fernando Santos foi contratado para obter o melhor resultado possível nas competições em que Portugal participa. A Federação Portuguesa de Futebol não lhe paga para pôr os jogadores da Selecção a fazer toques de calcanhar, trivelas e a interagir com os adeptos, para eles se divertirem.
Se tivéssemos de entregar um documento escrito de 30 páginas até ao final do dia, começávamos a estruturar e a escrever o texto… ou ficávamos 1 hora a escolher o melhor template para o nosso documento (e a aumentar o risco de não cumprir o nosso objectivo, que é entregar o documento no final do dia)?
Ou, dito de outra forma: queremos jogar futebol bonito ou levar o troféu para casa?
Bonito, bonito, é ser-se eficaz e cumprir o objectivo.
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E a ti? A Selecção ensinou-te mais alguma coisa? Diz-me nos comentários.