Um dos melhores dias da minha vida foi o dia em que não só percebi, mas também interiorizei a ideia de que os erros não são uma confirmação da minha falta de qualidade.
Um erro é apenas a auto-estrada a dizer-nos que nos estamos a aproximar da berma e que temos de endireitar o carro.
OK, talvez não tão dramático quanto na imagem.
Quando fazemos um erro, somos obrigados a questionar-nos, a analisar o que tem de ser melhorar e a ajustar o nosso percurso.
Dito de outra forma, um erro é talvez o melhor incentivo que se pode receber para melhorar. Pode ser doloroso e frustrante mas um erro acaba por ser um amigo para a vida.
E os 3 grandes erros que fiz (nomeadamente com o meu projecto Heelbook, de humor e t-shirts sobre wrestling) nas redes sociais não foram excepção:
#1 – Expandir Demasiado Depressa
Existem coisas em que conto com muita ajuda:
- Construir um site? Falar com o Bruno Brito.
- Dicas de design? Falar com a Sara Agostinho.
- Cartões, manuais de identidade, t-shirts? Falar com o Michael.
Mas, no que diz respeito à parte criativa, estou muito perto de ser o one-man-show, excepção feita a conteúdos que partilho de outras páginas e a sugestões de fãs. (E peço opiniões, claro)
Embora quase me sinta importante quando me defino como um one-man-show e isso me traga vantagens, traz-me também uma grande desvantagem, que ilustro com esta imagem:
E essa desvantagem é: dificulta a expansão de um projecto para novos canais.
O Heelbook tem uma presença expressiva no Facebook, no Twitter e no YouTube. Teve um bom arranque no email, antes de eu ter carregado no “stop”. Mas também está no Instagram e no Tumblr, embora sem qualquer real significado.
Para termos uma presença consistente e cativante numa rede social, precisamos de tempo:
- Tempo para pensar e criar conteúdos
- Tempo para compreender como esta rede social específica funciona
- Tempo para compreender e moderar a nossa audiência
- Tempo para acompanhar o que os outros fazem nessa rede
E este trabalho é, quando bem feito, específico para cada rede social. O que significa que, expandindo um projecto para uma nova rede, abrimos uma nova frente de batalha.
É aqui que ser um one-man-show deixa de ser glamoroso. E passo a ser o homem numa maratona que corre preso a uma bola e corrente.
Para teres ideia, o Heelbook foi eleito pela AgoraPulse como uma das melhores páginas de Facebook de 2014. No entanto, o Tumblr e o Instagram do Heelbook nunca foram distinguidos. Aliás, duvido que – apesar de existirem – alguém já tenha ouvido falar neles.
Porquê? Porque nem eu, nem tu, nem ninguém tem criatividade, concentração e tempo que chegue para fazer o seu melhor trabalho em 5, 6, 7 frentes de batalha abertas em simultâneo.
O QUE APRENDI:
- Estando sozinho, é preferível fazeres um excelente trabalho em 2 ou 3 redes, do que lutares para estar na média em 5 ou 6… e ires enlouquecendo com as exigências do trabalho extra
- A ideia é teres sempre algum tempo livre, onde possas descansar ou pensar em novos projectos – não descobrires formas de o consumir
- Há expansões que só fazem sentido se acrescentares pessoas à equipa
#2 – Não Criar Conteúdo Nativo
“Conteúdo nativo” é um termo utilizado para os posts criados especificamente para uma determinada plataforma, neste caso, rede social, conforme as suas particularidades.
A maioria das redes sociais usa como ponto de partida um determinado tipo de conteúdo, um determinado tipo de apresentação.
- Fotos para o Instagram
- Texto para o Twitter
- Vídeo para o YouTube
E, da mesma forma que um londrino em Inglaterra tem a expectativa que fales Inglês com ele, os utilizadores do Instagram têm a expectativa que fales “fotos” e “imagens espectaculares” com eles.
Eu, pseudo one-man-show, tentei safar-me nalgumas redes sem fazer este esforço, apenas re-utilizando o que já estava a publicar noutras redes.
Aliás, no Tumblr, instalámos uma app que postava automaticamente lá tudo o que eu colocasse no Facebook. Como se estivesse a fazer forward dos emails…
Adoro o IFTTT mas, infelizmente, nem sempre é uma boa ideia pôr a Internet a trabalhar para nós.
Ora, como tentei falar Português no meio de Oxford Street, ninguém me ouviu e ninguém quis parar para olhar para o meu projecto.
Se, na época dourada do Tumblr, eu me tivesse sentado a aprender a criar GIFs e publicasse um por dia, teria uma boa hipótese de cativar uma boa quantidade de fãs.
O QUE APRENDI:
- Sempre que me dei ao trabalho de “falar a língua dos nativos”, tive sucesso.
- No Reino Unido, fala-se Inglês. No Tumblr, fala-se GIF. Learn the language!
- Se não o vou fazer bem, também não vai ser com atalhos que vou lá.
#3 – Concentrar-me demasiado no Facebook
Este erro saiu-me caro. Literalmente.
Através do Heelbook e com a ajuda de um designer norte-americano, vendo t-shirts. E o negócio estava bem interessante. Não no sentido “vou buscar o Porsche depois de almoço”, mas no sentido “então isto é que é ter rendimento extra todos os meses…”.
O Heelbook estava com 15 mil, 20 mil fãs no Facebook e, para uma audiência desse tamanho, era relativamente fácil cativar potenciais clientes, sobretudo com t-shirts hilariantes… e com uma promoção.
Aliás, ainda me lembro da alegria de receber um email por cada compra no dia em que se oferecia “free shipping”.
Isso mudou… porque o Facebook mudou. Quase que pareceu que o Facebook tinha reparado no que eu e muitos outros estavam a fazer, olhou-nos nos olhos e…
Fechou a torneira. O Facebook ajustou uma parte do seu código – o mítico algoritmo chamado EdgeRank, que decide o que cada pessoa vê no seu feed.
Imagina o EdgeRank como o provador da Cleópatra. Quando chegamos com o almoço dela, o provador pára-nos e tira um pedaço do almoço para ver se é algo que a rainha vai querer. E só a comida de qualidade e de que ela gosta é que passa.
O Facebook faz isto com os nossos posts, escolhendo quais dos mais de, em média, 1000 posts diários feitos por quem segues (amigos e páginas) chegam a ti, segundo 3 critérios, (muito) resumidos abaixo:
- Afinidade – que relação se tens com o criador do post (quanto mais tiveres interagido com o criador do post no passado, com likes, comentários e partilhas, mais provável se torna que o post apareça)
- Peso/Importância – quanto mais importante for a “história”, mais provável é que a vejas (ex. um post original é mais importante que um post partilhado, um comentário de um amigo num post é mais importante que um like)
- Tempo – uma história de hoje tem mais destaque que uma história publicada há 3 dias
Até aqui, tudo bem. O Heelbook sempre teve um engagement (likes, comentários e partilhas) nos posts bastante elevado face à média, sempre criou conteúdo original e sempre publicou consistentemente.
Mas agora, o EdgeRank tinha uma coisa nova: passou a não achar piada nenhuma a posts em que algo está a ser vendido, independentemente do engagement, da originalidade e da consistência da página.
E é fácil detectar uma venda, olhando para as palavras-chave e para os links de um post (a encaminhar para uma loja, por exemplo).
Foi neste dia que senti na pele uma das máximas da Internet: “Não construas a casa em terra alugada.”
A qualquer momento, vem o dono da terra, muda as regras e a tua casa já não pode estar ali.
O QUE APRENDI:
- De facto, mais cedo ou mais tarde, o dono da terra aparece
- Por isso, nada como ter mais do que uma terra. Re-dediquei-me ao Twitter, cujo algoritmo não é tão rigoroso, e recuperei uma boa parte das vendas.
- E lembrei-me que quando alguém diz que o email marketing ainda é fundamental, tem razão (a tua lista de emails é mesmo tua, não é do Facebook ou do Twitter)
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E tu… Que erro te ensinou mais?